19.3.07

En Fallas

7h30. Domingo. Há muito não me levantava tão cedo, mas o programa prometia. Em Valência, não muito longe de Barcelona (pelos padrões espanhóis, está claro, que ainda são mais de 300 quilómetros…), decorreram durante toda a semana as Fallas, uma velha tradição valenciana, com origem num rito – como tantos outros – de celebração do equinócio de Primavera, entretanto apropriado pela igreja católica: as festas celebram hoje S. José e a Virgem dos Desamparados.

A viagem estava marcada para as 10h00, com saída da Estação Norte de Barcelona, em autocarro, até à capital da Comunidade Valenciana. Mas houve um problema com os bilhetes – se fosse supersticioso diria que era por sermos 13. O colega italiano (eram 11 ao todo, os transalpinos) que tinha comprado o bilhete tinha feito o pedido para o dia 18 e tinham-lhe dado para 16. Reclamamos e o máximo que conseguimos foi um lugar no autocarro seguinte, e uma experiência deliciosa na burocracia espanhola para fazermos as respectiva reclamação por escrito…

Finalmente o problema estava resolvido. Pelo menos tinha lugar para chegar a Valência. Embora tivesse gasto 15 euros mais que não estavam no orçamento. Bilhete na mão: Cais 23, lugar 32. E cá vamos nós.

Pela frente 5 horas de viagem, conhecendo o litoral da Catalunha e aproveitando o sol quente que batia no vidro para embalar num sono retemperador.

Chegamos finalmente a Valência. 23 graus e o sol continuava radiante. Depois de um início atribulado estava feliz por ali estar, embora me sentisse mais em Itália do que em Espanha, tal era a “sinfonia” transalpina à minha volta. Acho que até o meu castelhano soava com sotaque italiano ontem.

A cidade é muito bonita. O centro histórico é muito rico, mantendo ainda de pé as torres da antiga fortificação da cidade. Por lá também estão alguns palácios – que hoje acolhem serviços do Estado espanhol e da Comunidade Valenciana –, a catedral e as suas imensas ruas medievais, a fazer lembrar Barcelona. Mas sujas, muito sujas as ruas. Parece que ninguém as limpa até ao fim dos festejos... E ponho-me a pensar como é que Espanha consegue ser um destino turístico tão atractivo, ainda assim…

O que mais me chamou à atenção é que Valência tem todas as características de cidade ribeirinha, debruçada sobre as várias pontes que marcam a paisagem urbana. Mas rio nem vê-lo. No lugar em que devia estar há um grande parque de lazer, que atravessa toda a cidade, com campos de futebol, rugby, ténis, etc...

Descobri mais tarde que ali tinha de facto corrido um rio, o Turia, desviado em meados do século XX, depois de uma grande cheia, e que agora corre na parte Sul da cidade.

As Fallas são umas festas interessantes. Cada comissão fallera monta uma grande construção na entrada do bairro a que pertence, umas vezes satíricas, outras com motivos históricos ou infantis.

Depois, as pessoas de cada bairro percorrem a cidade, vestidas com os trajes típicos valenciano, e acompanhados por bandas de música e altares de flores. No final, juntam-se no centro da cidade para entregar as flores à Virgem dos Desamparados, uma enorme Nossa Senhora de madeira, coberta de flores, que desenham um manto lindíssimo.

Curioso também que durante todo o dia haja petardos e pequenas bombas a rebentar pela cidade. Dos mais novos aos mais velhos, todos participam nesta espécie de ritual que me custa entender. Mas, disse-me um italiano que estuda em Valência, aquele é um costume que dura todo o ano, desde que haja festa. Sejam baptizados, casamentos, ou festas populares.


Além do incessante ruído das explosões, Valência está cheia de música neste dia. Primeiro são as bandas das comissões falleras. E pela noite dentro cada bairro seguia com a sua própria animação. Uns mais tradicionais, com musica espanhola, bandas tradicionais, etc Outros mais modernos, com bandas de Rock e Dj's…

Valência está também pintada a spray. São imenso os grafites espalhados pela cidade. E, pelo que me pude durante a noite, é dado um espaço interessante às culturas “marginais”.

Era perto das 5h00 quando fui dormir um pouco, a casa do tal italiano que estuda em Valência, e que vive já fora do centro, bem perto do estádio Mestalla. Mas às 7h30 estava na rua, para procurar um autocarro que nos levasse à estação de camionagem.

Dormi quase todo o caminho, mas não pude deixar de sentir um estranho conforto ao chegar a Barcelona, ver a Torre Calatrava e Montjuic, e sentir-me como "em casa"…

Depois de 32 horas, estou de volta a casa. Agora quero dormir.

5 comentários:

Cláudio Rodrigues disse...

Se não me engano, essa Valencia que visitaste é a mesma da Cidade das Ciências (ou coisa parecida), que tem um magnífico edifício do Santiago Calatrava que parece um olho! Não foste visitar? Eu acho aquilo espectacular, embora só tenha visto por fotografias...

Samuel Silva disse...

É essa mesma, spicka. Sò vi a Cidade das Ciências em postais, também.
Estive pouco tempo em Valência e só tive oportunidade de visitar o centro.
A zona contemporanea da cidade está no extremo sul, perto do mar (onde na próxima semana começa a Americas's Cup) e ficava demasiado longe.
Além desse edificio, o Calatrava desenhou também o Palácio da Música, nessa zona. E há outros exemplos de excelente arquitectura. Mas infelizmente não pude visitar.
Fica para outra vez.

Cláudio Rodrigues disse...

A fotografia veio democratizar a arte, assim como a net a música. Temos hipótese de (re)conhecer qualquer lugar do mundo sem nunca lá ter ido! Embora não seja a mesma coisa... Assim como Barcelona, Paris, Londres, NYC, Amesterdão, Berlim, Roma, Bilbao, ..., ..., Valência é uma das cidades que adoraria visitar.

Samuel Silva disse...

Concordo contigo no que dizes sobre a fotogradia.
A Bilbau devo ir um destes dias, provavelmente em meados de Abril.

Gosto do logo do Ócio! :)

Cláudio Rodrigues disse...

;) Obg! Eu tb gosto! :D Foi feito no PowerPoint (agora não digas a ninguém...)